Por que diesel, gasolina e gás de cozinha tão caros? Entenda o motivo através da Política de Preços

 


        Os brasileiros têm sofrido com a alta no preço dos combustíveis, principalmente nesse primeiro trimestre de 2021, onde a gasolina já acumula um aumento de 41,6%, ao passo que o diesel tem alta acumulada de 33,9% no ano.

        A alta no preço dos combustíveis é prejudicial não apenas para quem depende diretamente de transporte rodoviário, mas impacta a Economia como um todo. Isso porque, sendo o transporte de mercadorias no território nacional sendo feito majoritariamente pela via rodoviária, um aumento no preço do diesel causará também um aumento de preço em todos os produtos que dependem do transporte rodoviário para chegar ao seu destino, o que acarreta, consequentemente, num aumento generalizado de preços na Economia, ou seja, gera inflação.
        Uma das propostas do Governo Federal para conter esses aumentos sucessivos de preços seria diminuir a carga tributária sobre o preço dos combustíveis. Mas seria a redução de impostos sobre o preço dos combustíveis a única medida capaz de resolver o problema da frequente oscilação nos preços? Essa questão, na verdade, demanda uma análise muito mais profunda a respeito da Política de Preços dos Combustíveis. Antes de adentrar nessa discussão, vamos entender como é atualmente a composição de preço dos combustíveis.


            Composição de preço da Gasolina

        Na Figura 1 abaixo, tem-se a composição do preço da Gasolina C, que é a gasolina que o consumidor abastece na bomba do posto. Esta gasolina tem 27% de etanol anidro (álcool quase 100% puro) em sua composição.
       Já a gasolina que sai da refinaria é a tipo A, ou seja, não possui álcool anidro em sua composição.

Figura 1: Composição do preço da Gasolina tipo C. Fonte: site da Petrobras*
* Dados coletados entre 14/02/2021 e 20/02/2021

        Como pode ser visto, do preço total da Gasolina tipo C, apenas 34% é realização da Petrobras ou do importador da Gasolina A. A carga tributária total é de 42% (14% de impostos federais e 28% de impostos estaduais). O custo de adição de etanol é de cerca de 16%, enquanto a parcela referente a distribuição e revenda corresponde a 8%.

    Atualmente, cerca de 60% dos veículos em circulação no Brasil utilizam a gasolina como combustível. O restante usa o álcool e o GNV (Gás Natural Veicular) como combustíveis.


        Composição de preço do Óleo Diesel

                        Figura 2: Composição do preço do Óleo Diesel. Fonte: site da Petrobras**
** Dados coletados entre 14/02/2021 e 20/02/2021

        A composição de preços do óleo Diesel mostrada na Figura 2 acima se baseia na coleta de dados da média de preços do Diesel S-10 (Diesel com máximo de 10 ppm de enxofre) comercializados nas principais capitais do Brasil.
        O Diesel S-10 atualmente vendido nas bombas dos postos possui 88% de diesel puro e 12% de biodiesel. A incorporação do biodiesel ao diesel combustível fóssil é uma forma de diversificar a matriz energética brasileira e aumentar a parcela de compostos combustíveis renováveis, já que o biodiesel é obtido a partir dos óleos vegetais ou gorduras animais.
        A utilização do óleo diesel no Brasil se dá no setor agrícola, com o Diesel S-500 (500 ppm de enxofre) e no setor rodoviário, com o diesel S-10.
        Como pode ser observado, a parcela de realização da Petrobras no diesel é maior que a na gasolina, onde 53% do preço do diesel S-10 é o valor cobrado na saída da refinaria (ou, quando não produzido pela Petrobras, corresponde a 53% do custo do produto importado).
        Dada a sua importância para o transporte da maior parte dos produtos da Economia, a carga tributária do diesel é menor que a da gasolina, que corresponde a 22% do preço total (onde 8% são impostos federais e 12% são impostos estaduais).
        O custo do biodiesel corresponde a 13% do preço final do diesel vendido na bomba, enquanto a margem de distribuição e revenda corresponde a 12%.


        Composição de preço do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo)

 Figura 3: Composição do preço do GLP. Fonte: site da Petrobras***
*** Dados coletados entre 14/02/2021 e 20/02/2021

        Os dados expostos na Figura 3 acima foram encontrados a partir da média de preços do GLP comercializados nas principais capitais brasileiras.
        O GLP, também conhecido como gás de cozinha, é o principal combustível usado no âmbito doméstico.
        Sendo um combustível imprescindível para a subsistência das pessoas, o GLP é o combustível com a menor carga tributária incidente, de cerca de 18%, onde 3% corresponde a impostos federais e 15% de impostos estaduais.
        A parcela de distribuição e revenda do GLP corresponde a 34% do preço final, ao passo que a realização da Petrobras (ou o valor de importação, quando o produto não for nacional) corresponde a 48%.


        Como pôde ser visto através das 3 figuras de composição de preço dos combustíveis, com exceção da gasolina, a carga tributária incidente não é o fator de maior peso no preço do produto final. Portanto, tentar equilibrar o preço dos combustíveis mexendo apenas na carga tributária dos mesmos não parece ser uma medida eficaz.
        A parcela mais significativa na composição do preço dos combustíveis é a realização da Petrobras ou, quando for o caso, o preço do produto importado. Vale a pena, então, entender a dinâmica dessa parcela na formação do preço final dos combustíveis, e isso pode ser feito estudando como se dá a Política de Preço dos Combustíveis.


        Política de preços dos Combustíveis

        A Política de Preços dos Combustíveis nada mais é que um conjunto de regras que definem de que forma é feito o reajuste de preço dos combustíveis.
        Antes de mais nada, é importante salientar que a Petrobras não detém o monopólio no setor de combustíveis. Desde 2002, a Lei 9.478/97, conhecida como a Lei do Petróleo, abriu-se o mercado, tirando o monopólio da Petrobras na comercialização de combustíveis. Com isso, a importação de diesel, gasolina, GLP, dentre outros derivados do petróleo passou a ser permitida no país, abrindo, então, espaço para a concorrência, onde os preços passaram a ser livremente definidos pelo mercado.
        Até 2016, a Política de Preços dos Combustíveis amortecia as flutuações de preço do mercado internacional, pois levava-se em consideração no cálculo os custos operacionais e a quantidade de petróleo produzido e refinado no país, por exemplo. Isso garantia uma certa estabilidade aos preços.
        Antes dessa mudança na Política de Preços dos Combustíveis feita em 2016, houve momentos, em que o Governo brasileiro errou a mão, quando, por exemplo, por ser o acionista majoritário da Petrobras (que é uma empresa de capital misto), utilizou a empresa como instrumento de Política Monetária ao represar o preço dos combustíveis a fim de segurar o aumento da inflação, fato ocorrido no Governo Dilma.
        A partir de 2016, quando Pedro Parente assumiu a presidência da Petrobras e sob o aval do presidente em exercício na época, Michel Temer, houve a mudança na Política de Preço dos Combustíveis.
        Com essa mudança, os combustíveis derivados do petróleo, que são commodities e, assim como o milho, café dentre outras commodities, também passaram a ter a sua cotação acompanhando as oscilações do mercado internacional. Com isso, qualquer abalo no cenário geopolítico do petróleo (como conflitos ou mudanças políticas em outros países) ou oscilações na cotação do dólar americano passaram a afetar diretamente o preço dos combustíveis no mercado interno.
        O Governo atual manteve essa Política de Preços dos Combustíveis, porém, com a diferença de que os ajustes de preços são feitos num intervalo de tempo um pouco mais longo.
        O preço dos combustíveis depende da cotação do barril de petróleo no mercado internacional, logo, sua cotação é em dólar. Dentre as 30 moedas mais negociadas no mundo, o Real foi uma das que mais se desvalorizou em 2020. Dessa forma, houve, simultaneamente, uma perda do poder de compra dos brasileiros e alta no preço dos combustíveis, já que, hoje, estes são dolarizados.
        Como a cotação dos combustíveis no mercado internacional oscila bastante, essa variação também é refletida no preço dos combustíveis no mercado interno, já que este segue a cotação externa.


        Reduzir impostos sobre o preço dos combustíveis resolve?

        Reduzir a tributação sobre os combustíveis é apenas a ponta do iceberg, pois se ocorre uma variação brusca para cima no mercado internacional no preço dos combustíveis, ou mesmo uma grande valorização do dólar frente ao Real, esse esforço fiscal do Governo acaba por ser anulado ou mesmo superado pelos fatores externos.


        Soluções alternativas

        Não é interessante um Governo extremamente intervencionista no preço dos combustíveis, podendo, muitas vezes comprometer o caixa da empresa. Por outro lado, essa Política de Paridade Internacional nos preços dos combustíveis também tem sido bastante prejudicial para a Economia brasileira, principalmente no atual cenário de crise econômico-sanitária do país. Portanto, o Governo deve pensar em soluções que não pendam a nenhum dos dois extremos: nem o totalmente neoliberal, nem o totalmente intervencionista.
      Uma saída seria mudar a Política de Preços dos Combustíveis, abandonando a Paridade Internacional nos preços. Afinal, se a Petrobras é autossuficiente em produção de petróleo, possui um parque de refino montado e malha dutoviária própria que possibilita garantir toda a logística de combustíveis por todo o território nacional, por que depender do mercado internacional para definir o preço de seus derivados?
      É possível considerar uma Política de Preços que leve em conta não apenas o mercado internacional, mas também ponderar no cálculo dos preços dos combustíveis outros fatores, como: custos operacionais, o nível de produção e refino de petróleo, a demanda interna pelos derivados e, claro, a garantia de um lucro justo ao acionista.  
        Considerando que o custo de produção de derivados no Brasil gira entre US$ 30 e 40 o barril, ao passo que a média desse mesmo custo no mercado internacional está em torno de US$ 80, mostra que é viável praticar preços abaixo do mercado externo sem comprometer o caixa da empresa e garantindo o lucro ao acionista.
        Além disso, as refinarias, atualmente, operam abaixo de sua capacidade instalada. Portanto, há margem para aumentar a produção e derrubar os preços, o que, inclusive, inviabilizaria a importação de combustíveis. Além do mais, poderia-se reduzir drasticamente a importação (prática que encarece ainda mais os combustíveis com o dólar bastante valorizado em relação ao Real), já que o Brasil é capaz de produzir internamente suprindo toda a demanda interna e, ainda, a menor custo. Sem contar o impacto socioeconômico, já que com a importação, gera-se empregos no setor externo, porém, aumentando a produção interna, a geração de empregos se dá no próprio país, aumentando, assim, a renda e, consequentemente, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
        Sendo a Petrobras uma empresa de energia de capital misto, ou seja, parte das ações são da União, e parte dos investidores privados, como qualquer outra companhia, ela deve atender ao objetivo principal, que é gerar lucro. Porém, isso não inviabiliza que ela também cumpra seu papel estratégico na Economia, onde o acionista majoritário, que é o Governo brasileiro, pode sim fazer adaptações na Política de Preços de forma que garanta o lucro da empresa sem onerar de forma dramática a população brasileira.

          Fonte de dados: Site Petrobras





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