Prejuízo na Renda Fixa. Isso é possível?

 



         O Brasil vinha passando por uma grave crise econômica nos últimos anos que foi agravada pela pandemia do Novo Coronavírus. O PIB (Produto interno Bruto) do país afundou, e uma das formas de aquecer a Economia é baixando a taxa básica de juros (Selic).

         Isso porque, como a Selic mede o “custo do dinheiro”, ou seja, quão caro ficam os empréstimos (lembrando que, por ser a taxa básica de juros da Economia, ela baliza todas as outras taxas de juros), uma taxa Selic num patamar baixo significa que fica mais barato para as empresas investirem. Consequentemente, investindo mais, as empresas geram mais emprego, gerando-se mais Renda na Economia, e por aí vai. Por essa razão, baixou-se o valor da taxa Selic de forma tão vigorosa ao longo do ano de 2020, a fim de minimizar a desaceleração acentuada da Economia ocasionada pela pandemia.

          Por esse motivo, na última reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária, que é o órgão colegiado do Banco Central do Brasil), ocorrida em 09/12/2020, manteve-se a taxa Selic em 2% a.a.1, mínima histórica para a taxa básica de juros brasileira.

Por outro lado, a inflação vem acelerando nos últimos meses, tendo atingido um valor acumulado nos últimos 12 meses de 4,31% (até nov/2020) 2.

Inflação, quando sob controle, é um indicador de aquecimento na atividade econômica. Porém, quando ela sai do limite superior da sua meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, que é o órgão máximo do Sistema Financeiro Nacional), isso se torna um fator preocupante, dado que uma inflação descontrolada é prejudicial para a Economia, pois gera um ambiente de incertezas para o setor produtivo, que se torna mais cauteloso em investir, ocasionando assim, uma queda na produção e, consequentemente, uma queda no PIB. Além disso, a inflação é extremamente perniciosa para os mais pobres, que já têm o orçamento limitado, tendo dificuldades para manter a sua subsistência.

         Sendo a taxa Selic um importante instrumento de Política Monetária utilizada pelo Banco Central para controlar a inflação, ela costuma ficar num patamar acima da inflação. Porém, dado o momento atípico vivenciado pela pandemia, com a brusca queda no PIB, a taxa Selic está descolada do valor da inflação. 
            Essa dinâmica (Selic < Inflação) torna os investimentos em Renda Fixa (RF) pouco rentáveis, ocorrendo, em grande parte dos casos atualmente, uma perda de ganho real de juros nos investimentos.
            O ganho real de juros são os juros auferidos acima da inflação. Pode ser definido de forma simplificada pela relação abaixo:

Ganho Real de Juros = Juros nominal dos Investimentos - Inflação

Por exemplo:

Se um determinado investidor aplica seu capital numa debênture (título de dívida das empresas) cuja rentabilidade é de 8% a.a., mas a inflação está em 5% a.a., o ganho real de juros será de 3% a.a.

Porém, se uma outra debênture paga juros de apenas 4% a.a., estando a inflação em 5% a.a., haverá uma perda no poder de compra de 1% a.a.

Por isso, na hora de se investir em Renda Fixa, não se deve apenas olhar a rentabilidade dos investimentos, mas comparar o quanto esses mesmos investimentos pagam acima da inflação, para que não se perca poder de compra ao longo do tempo.


Dados consultados em 14/12/2020 - Fonte: BACEN, IBGE e B3

        Considerando-se os dados econômicos atuais na figura acima, é possível entender com mais clareza como a dinâmica das taxas de juros e Inflação podem afetar a decisão de investimentos e consumo dos indivíduos. Para tal, vamos a um outro exemplo:

        Suponha que uma pessoa esteja pensando em comprar uma TV que hoje custa R$ 1.000,00. Essa pessoa tem exatamente esse valor investido, mas como a sua TV antiga ainda funciona, ela decide, então, manter o seu capital aplicado rendendo juros por mais 1 ano, para só então trocar a TV antiga por uma nova.

            Após 1 ano, os R$ 1.000,00 investidos no Tesouro Selic valeriam R$ 1.020,00.
            Um CDB (Depósito de Certificado Bancário, que é o título de dívida  através do qual o investidor empresta dinheiro ao banco comercial) de um grande banco comercial está pagando hoje em torno de 100% do CDI (Ceritifcado de Depósito interbancário). O CDI, em geral, é um valor muito próximo da taxa Selic, estando normalmente, um décimo abaixo da mesma. Sob essa rentabilidade, os R$ 1.000,00 após 1 ano valeriam apenas R$ 1.019,00.
        Numa corretora de valores, é possível investir em CDB muito mais rentáveis, sendo possível encontrar CDB que pagam 150% do CDI, por exemplo. Assim, após 1 ano, os R$ 1.000,00 valeriam R$ 1.028,50.
          Já a tão famosa, mas não necessariamente, melhor opção de investimento, Poupança, que atualmente está com uma rentabilidade de 1,4% a.a., transformaria os R$ 1.000,00 em R$ 1.014,00 após 1 ano.        

Tesouro Selic: R$ 1.000,00      
CDB que paga 100% do CDI:  R$ 1.019,00
CDB que paga 150% do CDI:  R$ 1.028,50
Poupança:  R$ 1.014,00

Valor da TV sob efeito da inflação: R$ R$ 1.043,10


            Por sua vez, a inflação tornou a TV, que custava R$ 1.000,00 há 1 ano, mais cara, passando a custar R$ 1.043,10. 
              Portanto, a estratégia adotada pela pessoa do exemplo não foi bem sucedida, pois ficou evidente a perda do poder de compra desse consumidor perante a um ambiente inflacionário, ainda que este invista seu capital. 
          Assim, não basta apenas investir um montante, e considerar que seu capital está seguro. O investimento deve ter rendimento acima da inflação, para valer a pena!



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